domingo, 6 de dezembro de 2009

Rua do Latão


Uma das ruas mais conhecidas do bairro é a Rua do Latão. Embora pouca gente saiba que seu nome real é Rua Sussekind de Mendonça, esta rua ficou bastante conhecida desde os primórdios de nossa história por motivos diversos.
Como já contei aqui, era no cruzamento desta rua com a Rua Embaú que ficava localizado o “Despachódromo”. Mas a rua do Latão, que começa nesse ponto e corre em paralelo com a Rodovia Presidente Dutra, tem, nas suas duas calçadas, apenas fábricas, depósitos, transportadoras; enfim, empresas que, durante o dia, apresentam movimento apenas nos horários de entrada, almoço e saída de funcionários, ficando, durante o resto do tempo, praticamente abandonada e deserta.
Ora, lugares assim são excelentes “points” para quem deseja namorar sem correr o risco de ser visto por vizinhos fofoqueiros, parentes chatos ou gente pronta a “segurar vela” – será que ainda há quem faça isso?, ou estou apenas entregando a minha idade?
Numa época em que um bom namoro incluía que, pela garota, o cara sempre dissesse: “Por você, meu amor, mato ou morro!” acontecia entre os anos 70 e fins dos 90, a rua do Latão fosse frequentada pelos mais diversos casais, que, aproveitando-se da tranquilidade total existente após as 18:00 hs – quando as fábricas já estavam fechadas, lá iam atrás de refúgio, sombra, isolamento e tranquilidade para trocarem juras de paixão imorredoura, amor eterno, beijos e amassos, afinal, paixão sempre rimou com tesão.
Nesse aspecto, a rua fornecia excelente logística, já que, apesar de bem iluminada, possuía muitas árvores copadas e frondosas, além dos vãos entre os muros e os portões de entrada das empresas. Tais árvores e muros forneciam bons lugares para que belos casais se formassem em injunção carnal – se é que o leitor me entende. Havia até algumas árvores cujos troncos entortaram, devido à “pressão” que sobre eles era exercida.
Vale lembrar que, até fins dos anos 80, a expressão “violência urbana” era desconhecida no bairro, podendo ditos casais ficarem à total vontade para buscarem as bênçãos de Cupido. Com isso, a fama da rua ficou tão grande que a mesma logo tornou-se extremamente movimentada, chegando a haver quem reclamasse de não ter conseguido vaga numa de suas árvores ou de que todos espaços possíveis já haviam sido tomados quando lá chegaram.
Houve uma história que muito ajudou à divulgação da rua como espaço amoroso privilegiado: um jovem mancebo, lá chegando em bela companhia, divisou, bem acompanhada, a silhueta de sua namorada “oficial”, logo aquela pura jovem a quem ele pedira ao pai para namorar em casa. Claro, houve briga, bate-boca, alguns xingamentos, mas no final deu tudo certo, pois, como se diz por aí: “Chifre trocado não dói.” (Os dois estão ainda bem-casados e, quem sabe, seus dois filhos não estejam me lendo nessa hora...)
Outra história legal foi quando uma das mais lindas – e gostosas – garotas do Parque Colúmbia foi surpreendida “amamentando” sua melhor amiga. Foi uma verdadeira comoção entre a galera que, decepcionada com o lesbianismo implícito da jovem, tratou logo de excluí-la totalmente do nosso convívio. Mas parece que a aventura foi apenas uma experiência, e a gostosa logo viu que desejava algo maior para sua vida e procurou um amigo nosso, cujo apelido era “Ben... Ben Gala”, para que preenchesse seu vazio interior. Quanto a sua amiga, esta até hoje não se consola por ter perdido sua vaca leiteira e vive se lamentando por aí...
Tenho absoluta certeza de que muitos columbianos, hoje na faixa dos 20 aos 35 anos, são verdadeiramente “made in Rua do Latão”, mas hoje em dia, com o aumento da violência local, com o turno noturno de algumas empresas e com o barateamento do preço dos moteis da Pres. Dutra, muitos dos jovens casais que poderiam estar perpetuando uma saudável tradição de namoro “sob as estrelas” estão se divertindo em outras paragens. Afinal, já não existe mais a tradição do “mato ou morro” que mencionei acima, e esses dois lugares tradicionais para a reprodução da espécie têm ficado meio abandonados por nós, sedentários e civilizados. Até a próxima!

2 comentários:

  1. A parte do teu amigo Ben foi legal, mas como eu sou uma pessoa inocente eu ri mesmo com "para que belos casais se formassem em injunção carnal" LOL
    Quando fizeram a ciclovia aqui na V do Pinheiro, algué desligava os holofotes e meus amigos - mais velhos, claro - diziam que tinham q correr pra achar banco vazio. o.O'
    É tenso!
    Ah, mas hoje nem tem mais isso.
    Aê, o 665 lotação do inferno passa aí, né? Eu era obrigada a pegar esse ônibs lotado de vizinho seu todo dia "/

    beijo!

    Raquel

    ResponderExcluir
  2. Só você para me fazer escangalhar de rir dessa forma, à essa hora da manhã. rs
    Tem uma rua parecida com essa aqui no meu bairro - a "rua das dragas", mas eu prefiro nem comentar sobre isso... rs

    Abraços,
    Jefferson.

    ResponderExcluir