sexta-feira, 7 de maio de 2010

SYD, Pink Floyd Cover


Retornando às postagens, após longo e tenebroso período de recolhimento e dedicação aos estudos, resolvi hoje falar novamente de um ponto de nossa história de que me orgulho muito: a meteórica trajetória daquela que foi, sem dúvida alguma, o grupo musical columbiano com maior destaque na mídia: o SYD. Formado nos idos de 1991, com a ideia de ser uma banda cover de um dos ícones do rock progressivo mundial, o Pink Floyd, o SYD viveu reais dias de glória entre os anos de 91 a 94, quando seus membros decidiram o fim da banda.
A banda foi formada por algumas figurinhas carimbadas do rock columbiano: Zé Augusto (guitarra) já era veterano de bandas como o Palma da Mão e o AWGS 31/6; Luís (bateria) também tocara no AWGS 31/6. A eles se juntaram dois caras meio que novatos no ramo: Caius no vocal (o nome é Zé Augusto também, mas tinham que diferenciar de algum jeito, né?Daí que alguém bolou um nome romano pro cara, pensando no imperador Caius Augustus); e Mauro (teclado). Daí só faltava um baixista e, após uma série de testes com uma galera - eu inclusive - a escolha do grupo recaiu sobre o Jorge, um cara da Pavuna que também já tinha tocado num monte de bandas por lá. A banda começou, como todas, ensaiando pra caramba, mas a música do Floyd não é algo fácil de tocar, e, enquanto uma banda comum ensaia, tranquilamente, 20 músicas por mês, quando o assunto é Pink Floyd a gente tem que botar a mão pro céu se conseguir ensaiar 5. Daí que, no seu primeiro ano de atividades, o SYD - que tem esse nome em homenagem ao fundador do PF, o guitarrista Syd Barrett - praticamente só ensaiou, e apenas quando já tinha um repertório muito bem ensaiado, é que começou a, como toda banda de bairro, a animar festas na casa de amigos.
Mas não é em qualquer festa que rola o som do Pink Floyd. Daí que, era mais que necessário arranjar lugares para tocar: e toma de fazer umas festas extras na Associação de Moradores, pra que a gente ouvisse muito rock - e o SYD pudesse tocar.
Instaurou-se aí uma saudável competição entre as bandas do bairro: todo mundo queria tocar pra caralho, pra poder competir com o SYD! E toma de Clóvis da Noite abrindo show na Amacomerge tocando "Stairway to Heaven! (Pô mermão, tocar Led Zeppellin quando a galera ainda está careta é sacanagem!...)
Em janeiro de 1993 nós tivemos também o Colúmbia Rock Festival, evento no qual o SYD foi uma das bandas de maior destaque, principalmente quando o Caius - até então conhecido no bairro por ser um pacato rapaz evangélico, começou a cantar e correr pelo palco e dar um mosh na galera e sair correndo pelo e escalar a torre de som, teve crente dizendo que ele acabava de comprar sua passagem pro Inferno...
Bom, acontece que o Jorge, que nas horas vagas era ativista no Sindicato dos Bancários, contatou o referido sindicato e o SYD foi, numa bela noite de janeiro de 1993, tocar no Bar dos Bancários, na Pres. Vargas: um calor do cão e a gente lá prestigiando a banda, que acabou quebrando, naquela noite, todos os recordes de público do referido bar. (E secou toda a cerveja também, que os caras do botequim tiveram que encomendar às pressas, buscando sabe-lá-Deus-onde) Aquele show só acabou lá pelas 2 da manhã e até hoje eu não sei como foi que cheguei em casa...

Em março, quando houve o dissídio da categoria, os bancários ameaçaram entrar em greve e lá foram os intrépidos membros da banda tocar numa passeata em plena Avenida Rio Branco. O sucesso foi enorme, e o pessoal do sindicato filmou tudo e transformou em clipe - sei quem ainda tem uma velha cópia em VHS, se um dia eu conseguir uma versão pra mim, eu juro que posto aqui.
Claro, o sucesso da banda fez com que ela voltasse a tocar no botequim dos bancários, a fazer mais alguns shows pelo bairro, etc. Mas logo as possibilidades de exibição da banda, aqui no Colúmbia, ficaram esgotadas. Daí, os caras fizeram o que todo mundo faz, nesses casos: voltaram a ensaiar material novo e também a buscar novos lugares pra tocar.
Contudo, em princípios de 1994 as coisas começaram a mudar pra banda: o baterista abriu uma sorveteria, a Brabota - que será motivo de um post, no futuro.
A saída do Luís trouxe uma dificuldade pra banda, já que não é qualquer baterista que se identifica com o som do Pink Floyd... Diversos caras foram testados e tentados, mas ninguém se fixava no SYD por muito tempo. O baixista foi demitido do banco; o que sempre desestrutura o cara... e, no seu novo emprego, ele não tinha muito tempo de sobra pra ensaiar...
Mas o pior viria em seguida, um famoso bar do Largo do Bicão, a "Taberna do Pirata", convidou a banda pra tocar lá todas as 5ªs e 6ªs, com contrato, cachê e tudo o mais!!! Lógico, os caras ficaram de, fazendo uma reunião, decidir sobre o assunto... Foi quando a esposa do guitarrista disse pra ele: "Você não vai me deixar em casa duas noites por semana, com criança pequena, pra tocar lá naquele fim de mundo, por causa de um dinheiro que a gente precisa e isso logo nas duas noites que eu tenho psicólogo e dentista... né?" O sujeito, que sempre foi gente boa, mas um tremendo pau-mandado da mulher, chegou na reunião dizendo que não, que não ia tocar, que tinha família, precisava estar com a mulher, etc. E, pra finalizar, que música pra ele era um hobby e que sua vida mesmo era ser mecânico de automóveis ou dirigir caminhão...
Foi aí que o Caius pulou nas tamancas e disse: "Mermão, aqui só tem pobre, e pobre não tem Robin não cumpadi, pobre só tem é Batman!" e, nesse momento, além de inventar um trocadilho impagável, decidiu deixar a banda e levar consigo sua parte da aparelhagem: microfone e amplificadores...
Isso foi a pá-de-cal, já que o Caius era o único que dominava inglês o suficiente pra cantar na banda... O resultado, foi que a banda se desfez de vez: o Mauro, que tinha aprendido teclado só por causa da banda, foi militar no movimento negro, estudar na PUC, fazer política e agora é candidato a deputado estadual... O Caius casou, tem um moleque e leva sua pacata vida de cidadão, o Luís vendeu a sorveteria, abriu um restaurante, que depois vendeu e, me parece, mora agora em Pernambuco. E o guitarrista, cuja esposa foi o estopim da crise, separou-se da criatura, está re-casado tem um caminhão e faz mudanças...u

domingo, 6 de dezembro de 2009

Rua do Latão


Uma das ruas mais conhecidas do bairro é a Rua do Latão. Embora pouca gente saiba que seu nome real é Rua Sussekind de Mendonça, esta rua ficou bastante conhecida desde os primórdios de nossa história por motivos diversos.
Como já contei aqui, era no cruzamento desta rua com a Rua Embaú que ficava localizado o “Despachódromo”. Mas a rua do Latão, que começa nesse ponto e corre em paralelo com a Rodovia Presidente Dutra, tem, nas suas duas calçadas, apenas fábricas, depósitos, transportadoras; enfim, empresas que, durante o dia, apresentam movimento apenas nos horários de entrada, almoço e saída de funcionários, ficando, durante o resto do tempo, praticamente abandonada e deserta.
Ora, lugares assim são excelentes “points” para quem deseja namorar sem correr o risco de ser visto por vizinhos fofoqueiros, parentes chatos ou gente pronta a “segurar vela” – será que ainda há quem faça isso?, ou estou apenas entregando a minha idade?
Numa época em que um bom namoro incluía que, pela garota, o cara sempre dissesse: “Por você, meu amor, mato ou morro!” acontecia entre os anos 70 e fins dos 90, a rua do Latão fosse frequentada pelos mais diversos casais, que, aproveitando-se da tranquilidade total existente após as 18:00 hs – quando as fábricas já estavam fechadas, lá iam atrás de refúgio, sombra, isolamento e tranquilidade para trocarem juras de paixão imorredoura, amor eterno, beijos e amassos, afinal, paixão sempre rimou com tesão.
Nesse aspecto, a rua fornecia excelente logística, já que, apesar de bem iluminada, possuía muitas árvores copadas e frondosas, além dos vãos entre os muros e os portões de entrada das empresas. Tais árvores e muros forneciam bons lugares para que belos casais se formassem em injunção carnal – se é que o leitor me entende. Havia até algumas árvores cujos troncos entortaram, devido à “pressão” que sobre eles era exercida.
Vale lembrar que, até fins dos anos 80, a expressão “violência urbana” era desconhecida no bairro, podendo ditos casais ficarem à total vontade para buscarem as bênçãos de Cupido. Com isso, a fama da rua ficou tão grande que a mesma logo tornou-se extremamente movimentada, chegando a haver quem reclamasse de não ter conseguido vaga numa de suas árvores ou de que todos espaços possíveis já haviam sido tomados quando lá chegaram.
Houve uma história que muito ajudou à divulgação da rua como espaço amoroso privilegiado: um jovem mancebo, lá chegando em bela companhia, divisou, bem acompanhada, a silhueta de sua namorada “oficial”, logo aquela pura jovem a quem ele pedira ao pai para namorar em casa. Claro, houve briga, bate-boca, alguns xingamentos, mas no final deu tudo certo, pois, como se diz por aí: “Chifre trocado não dói.” (Os dois estão ainda bem-casados e, quem sabe, seus dois filhos não estejam me lendo nessa hora...)
Outra história legal foi quando uma das mais lindas – e gostosas – garotas do Parque Colúmbia foi surpreendida “amamentando” sua melhor amiga. Foi uma verdadeira comoção entre a galera que, decepcionada com o lesbianismo implícito da jovem, tratou logo de excluí-la totalmente do nosso convívio. Mas parece que a aventura foi apenas uma experiência, e a gostosa logo viu que desejava algo maior para sua vida e procurou um amigo nosso, cujo apelido era “Ben... Ben Gala”, para que preenchesse seu vazio interior. Quanto a sua amiga, esta até hoje não se consola por ter perdido sua vaca leiteira e vive se lamentando por aí...
Tenho absoluta certeza de que muitos columbianos, hoje na faixa dos 20 aos 35 anos, são verdadeiramente “made in Rua do Latão”, mas hoje em dia, com o aumento da violência local, com o turno noturno de algumas empresas e com o barateamento do preço dos moteis da Pres. Dutra, muitos dos jovens casais que poderiam estar perpetuando uma saudável tradição de namoro “sob as estrelas” estão se divertindo em outras paragens. Afinal, já não existe mais a tradição do “mato ou morro” que mencionei acima, e esses dois lugares tradicionais para a reprodução da espécie têm ficado meio abandonados por nós, sedentários e civilizados. Até a próxima!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Um dia triste: 04 de janeiro de 1992


Noutro dia, encontrei um amigo que comentou estar gostando bastante das “histórias engraçadas” que eu estava postando aqui. Meus caros, o blog trata da história – e das histórias – do Colúmbia, e, na verdade, a maioria delas não é engraçada. Acontece que, não sei bem o porquê, até agora eu vim selecionando histórias com um fundo de humor para postar.
Contudo, vou tratar aqui de um tema terrível que afeta boa parte da população do bairro: as enchentes. Como foram muitas ao longo desses anos, vou falar de uma das piores que já vi: a de 04 de janeiro de 1992.
1992 foi um ano que parecia promissor: apesar do Collor ser o presidente, o Ano Novo se passara numa boa, sem maiores sobressaltos, sem aquela violência que, enfim, vinha aumentando nos últimos anos. Ademais, lembro-me bem, na noite de Ano Novo teve uma lua cheia linda, céu estrelado e bastante alegria. Ninguém imaginaria o que estava por vir.
Era sábado, o primeiro fim de semana do ano, de certo modo uma continuação da festa. E foi nesse sábado de muito sol, quente, com praia superlotada que eu, voltando do trabalho, cheguei a casa por volta da 17:30 – nessa época eu morava na Rua Irmã Luiza Matos – e percebi um vento frio, desses que indicam que o tempo virar. Até pensei: “Ai meu saco! Amanhã pleno domingo, eu em casa, e o tempo vira... sacanagem...”.
Bastou escurecer, aí pelas 19:30 (horário de verão, né?) e eu tive a infeliz ideia de ir à rua comprar um refrigerante pro lanche da noite. Foi quando atravessava a Ildefonso Falcão que eu ouvi o primeiro trovão: não era um daqueles trovões que se escutam longe, com um som que lembra uma descarga elétrica; não senhor, esse era um som forte, encorpado, como se alguém tocasse uma nota grave em um contrabaixo, aqueles trovões que não anunciam a tempestade, mas que significam que ela já arrombou a porteira do céu e alguns pedaços do céu começaram a desabar na sua cabeça, tamanha era a grossura dos pingos da tempestade que iniciava.
Entrei no primeiro bar que encontrei ali na “beira do rio”: o do Carlinhos, o mesmo Carlinhos que hoje em dia é dono da antiga padaria do Américo, e me refugiei ali na vã esperança de que fosse apenas um alarme falso. Mas em três minutos minhas esperanças naufragaram, pois a água do rio já invadia a rua Ildefonso Falcão e eu tive de voltar pra casa com aquela “água limpa e perfumada” do Rio Acari banhando minhas pernas.
Meus amigos, a chuva caiu até 01:00, numa intensidade como poucas vezes eu vi na vida, inundando não só toda a beira do rio, com a água cobrindo as traves do gol, na Praça Armando Steele, cujos moradores ficaram todos em suas respectivas lajes ou refugiados nas casas dos vizinhos. Mas, além disso, a água acabou chegando até áreas jamais alcançadas antes – e nem depois: a esquina da Edmundo Júnior com a Desembargador Narcélio de Queiroz, a rua Embaú, na altura da Francisco de Menezes e do viaduto do Parque Gênus já são um bom exemplo, só para que se tenha uma pálida ideia do que foi aquela enchente.
Mas a lista de tragédias não para por aqui. A própria Rodovia Presidente Dutra foi inundada pelo rio, com enormes prejuízos para as fábricas e empresas vizinhas: todo o estoque do depósito da Ponto Frio – na outra margem do rio – foi perdido. A gráfica Micron – que dava emprego a muitos moradores do bairro – teve todo seu maquinário danificado pelos metros cúbicos de lama que a invadiram, além de perder todo o papel estocado; a gráfica jamais se recuperaria das perdas, fechando cerca de um ano depois.
Minha casa foi subitamente transformada em abrigo, com diversos vizinhos passando pelos telhados até alcançarem a varanda. Como minha casa ficava no segundo andar, graças a Deus não perdi nada; e como era alugada, meu senhorio foi o primeiro a se refugiar , mas nem assim o sacana me deu um desconto no aluguel do mês seguinte.
O dia seguinte, 05.01.92, amanheceu preguiçoso, como que se curando da ressaca que foi o temporal que nos assolou a noite toda; apenas então pudemos ver a extensão da tragédia: da minha janela eu podia o verdadeiro mar que, pela outra margem do rio, unira o Parque Colúmbia a Jardim América e a Acari, como se os três bairros agora compartilhassem um lago central. Contudo, logo o calor do verão se fez presente, e o odor perfumado das águas do Rio Acari chegaram até nossas narinas.
Estavam todos exaustos mas acho que fui o primeiro a dar a ordem: “ninguém, mas ninguém, seja hóspede-refugiado ou morador da minha casa, vai tomar banho hoje!” “Como é que é?” disse a minha mãe, ao que respondi: “-Será que temos água potável ou já está contaminada pela água do rio? Além disso, quando é que essa água vai baixar, pra gente poder sair de casa?”
A água só começou a dar sinais de retrocesso por volta das 10:30 da manhã, mas só às 14:00 conseguimos botar o pé naquele lamaçal que as ruas todas tinham virado, quando minha mãe pisou o chão – os cigarros dela haviam acabado, e aí não existe desculpa para ficar em casa–, afundou literalmente até o meio da coxa na lama, mas, como o cigarro é a coisa mais importante na vida de quem fuma, lá foi ela procurando onde comprar seu inseparável amigo, o mesmo que lhe raria, como presente, cinco cirurgias para retirada de tumores cancerígenos. Ao voltar para casa, fui categórico: “-Só pisa aqui dentro depois de lavar essas pernas com álcool!” (Ela sempre fazia isso comigo quando era criança... ah! A vingança é tão doce!, hehehe)
Às 18:00 de domingo veio a notícia: a enchente fizera uma vítima: encontraram, no quarto, o cadáver do Geraldo “do Porco”. Parece que havia passado a tarde tomando umas e outras, e outras, e outras, como era seu costume, chegara em casa e dormiu para curar o porre. No verdadeiro coma alcoólico em que se encontrava, Geraldo não percebeu a enchente, morrendo afogado em sua própria cama.
Outras consequências ainda viriam: três casas na beira do rio foram condenadas e derrubadas pela defesa civil, e seus moradores ficaram morando uns dias na Escola Municipal Andréa Fontes Peixoto. Muitos dos comerciantes locais, assim como os moradores, perderiam tudo; espalhando pelas ruas os móveis destruídos pela água. Levaria pelo menos dois meses para que a lama das ruas secasse e fosse recolhida pela Comlurb, nesse ínterim, muita gente pegou dengue, além de coisas piores.
Essa foi a pior das enchentes vividas pelo Parque Colúmbia, superou a de 1968 e deixou a maioria dos moradores numa condição péssima tanto no quesito econômico quanto no amor-próprio, iniciando um ciclo tenebroso de nossa história: os anos 90, sobre que falarei em outro post.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Há quanto tempo...

Meus amigos queridos, apenas hoje eu percebi que já tem algum tempo eu não coloco nada aqui,
é que as coisas andaram enroladas na minha vida pessoal e o volume de trabalho aumentou muito, assim eu não tive tempo nem histórias novas para postar.
Não é que as histórias tenham acabado, nada disso, mas é que às vezes eu tenho que fazer um certo esforço de memória para lembrar com a maior exatidão possível, dos detalhes. Assim, escrever uma simples história acaba se tornando algo mais complexo do que simplesmente abrir a boca - ou batucar o teclado.
Mas, fiquem tranquilos, pretendo retomar logo a doce tarefa de escrever sobre o nosso pedaço do planeta e manter você, querido leitor, muito bem informado dos fatos de nosso passado.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A "Festa da Igreja"

Gente boa que me lê, como no próximo sábado, 13 de junho, será o dia de Santo Antônio e muita gente vai fazer simpatia pra casar logo, resolvi postar hoje sobre a mais sólida tradição do Parque Colúmbia, e que, para muita gente, é a única coisa que realmente funciona no bairro: a festa junina da Igreja Católica.
Conhecida simplesmente como “festa da igreja”, esse tradicional evento columbiano ocorre tradicionalmente no mês de junho – se não, não seria junina, pô! – a festa é das mais tradicionais: barraquinhas típicas, quadrilhas dançando, meninas levando os rapazes presos e, é claro, muita azaração.
A festa deve ter começado ainda na década de 60, afinal a Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro começou a ser construída justo em 1960, com a chegada do Pe. Eugênio, mas o certo é que a festa ocorreu sempre no mesmo lugar, na rua General Etchegoyen, em frente à paróquia.
Durante a festa sempre se apresentam diversas quadrilhas, locais e convidadas, mas a mais conhecida, tradicional e aguardada é a “Quadrilha dos Coroas”, formada apenas por que já passou dos 50. Existindo desde inícios dos anos 80 – até onde eu consigo me lembrar – é claro que a maioria dos coroas originais já estão celebrando as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro na companhia dos próprios, mas como a velhice é um lugar para onde todos estamos indo, não faltará gente para repor os quadros associativos da quadrilha.
Ao longo de todos esses anos, a festa sempre teve anos mais movimentados e outros bem apagadinhos, teve até um ano em que foi feita dentro da própria igreja, em razão da violência no bairro. Mas há alguns lances que têm de ser lembrados.
Houve uma vez, ainda nos anos 80, que uma equipe de som foi chamada para animar a festa. É óbvio que, lá pelas tantas, a festa junina já tinha virado um baile, cheio de “balanço” – como então era chamada o funk - quando o animador, um cara chato pra cacete, viu o Diógenes dançando lá embaixo e anunciou: “Daqui a pouco, com vocês, o dançarino maluco!!!” e tanto insistiu que levou o Dio pra dançar no palco. Entrevistando aquele que, hoje, é dono da melhor e única pastelaria do bairro, o Dio contou um monte de piadas e, imitando o Sílvio Santos, começou a deixar o “animador” da festa semgração. Daí, ele botou um monte de músicas pro Dio ficar dançando no palco, sendo aplaudido e zoado pela galera lá embaixo.
Outro lance engraçadíssimo acontecera uns anos antes: o Pe. Eugênio ganhara, de presente para a paróquia, um rechonchudo leitãozinho. Bonitinho, rosinha, até parecia com o “Babe”, do filme “O porquinho atrapalhado”. Bom, igreja não é lugar de porco, e, como nosso bom pároco sabia disso, resolveu fazer um sorteio de brindes durante a festa, oferecendo como prêmio o dito bichinho.
Até aí, tranquilo, só que porco não é animal de estimação e, na hora h, a ganhadora do bicho declarou em alto e bom som: “Olha seu padre, eu queria doar o porco pra paróquia, porque, o senhor sabe, a minha casa é pequena... Por quê o senhor não sorteia de novo?” e lá foi nosso sacerdote realizar um novo sorteio, só que, dessa vez, o ganhador não apareceu – eu vi o sujeito escondendo o número sorteado no bolso e saindo de fininho. Novo sorteio, e nada. Mais um, e outro, e o padre já estava exasperado com isso e, enfim o porco saiu pro Seu Zé, morador antigo, que criava porcos num sítio em Magé e que ficou muito feliz com o aumento repentino de sua vara (calma galera, “vara”, é bom lembrar, é o coletivo de porcos, ok?) Eu ainda ouvi o padre comentar com o seu Gilson Mello, de saudosa memória, que “O porquinho bem podia ter saído pra alguém que soubesse fazer um leitão à pururuca”.
Espero encontrar vocês todos lá, para que no ano que vem eu poste alguma coisa nova sobre a festa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Despachódromo

Uma das coisas que não existem mais no Colúmbia - e eu fico muito feliz com isso! - é o "Despachódromo" da rua do Latão. Calma, leitor, eu vou explicar: durante as décadas de 70, 80 e até mesmo no comecinho dos anos 90, o cruzamento entre a rua Embaú - bem na entrada do bairro - e a Rua Sussekind de Mendonça, que, pra quem não sabe - e eu garanto que muito morador antigo aqui do bairro não sabe - é o nome oficial da rua do Latão, era um espaço privilegiado para a colocação dos mais diversos despachos que se podiam imaginar.
Todas as madrugadas de sexta-feira, religiosamente (meeesmo), o lugar era tomado por fiéis e mui devotos seguidores dos cultos afro-brasileiros, que arriavam ali uma grande quantidade de ebós devidamente oferecidos a distintos senhores como Zé Pilintra, Tranca-Rua, Exu-Caveira, e suas consortes D. Maria Mulambo, María Padilla (é assim mesmo, com dois ll, porque dizem que ela foi uma condessa espanhola), além de uma Cigana bem conhecida de grande parte do povo brasileiro.
Ao final, ao longo desses anos, devem ter sido oferecidos ali galinhas em quantidade suficiente para fornecer canja para diversos hospitais, cabritos em profusão tal que daria para fazer buchada de bode para toda a feira de São Cristóvão, tanta farofa que dava pra embolsar uma casa inteira com ela, velas (pretas e vermelhas, como manda o figurino) com as quais se podia iluminar o bairro inteiro e, enfim, hectolitros da melhor champanhe, sidra e cerveja.
Até aí, tudo bem. A Constituição Federal garante liberdade de culto e de expressão religiosa, determinando o respeito a toda e qualquer manifestação de fé.
O problema era que, com tanta fartura de alimentos, sempre aos sábados pela manhã aparecia um bando de urubus dispostos a ter um café da manhã mais do que reforçado; e, além dos urubus, um bando de cães sem dono começou a frequentar o lugar. Se isso já era ruim, havia o pior de todos os problemas: expostos ao sol, logo no dia seguinte os despachos começavam a exalar um mau-cheiro terrível. Houve um caso, em que ultrapassaram-se todos os limites: foram despachados numa única sexta-feira 21 galinhas, 3 cabritos e um boi. Como era janeiro, pleno verão de 88, já na 2ª o fedor chegava até a esquina da rua 04, alcançando inclusive a minha casa.
Foi o bastante para que a Della Volpe -transportadora que fica(va) em frente ao despachódromo, reclamasse na Prefeitura e ordenasse a seus seguranças que ameaçassem os macumbeiros de plantão. Teve até um engraçadinho - que não vou dizer quem foi - que pendurou uma faixa em cima da rua, na qual se dizia "O Exu já se mudou pra outra esquina, porra!"
A partir daí, o movimento no despachódromo foi diminuindo, fato que deixou ao menos um morador do bairro bastante chateado: o Padre Eugênio, que costumava levar os alguidares para a casa paroquial, e neles cultivar suas rosas e hortaliças, mas isso já é outra história...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Lanchinhos da Madrugada

Como já fiz dois posts relacionados à música, neste aqui vou tratar de um assunto bem diferente: os "lanchinhos da madrugada". Antes que alguém acostumado a associar essa expressão a um certo funk que tem por aí pense besteira, deixe-me explicar: até ano de 1974 existia, na Rodovia Pres. Dutra, uma fábrica de turbinas de avião. (Isso mesmo! Turbinas de avião a jato, peça importante de qualquer avião moderno!)
Naquela época - assim como hoje - as turbinas tinham de ser testadas, e, como isso consumia muuuuita energia elétrica, a única hora em que se podiam testá-las sem o risco de causar um curto-circuito no bairro inteiro era de madrugada(!!!). Nessa hora, como quase não havia consumo de energia, a capacidade excedente era "drenada" pela fábrica, para o teste das turbinas.
Então, pontualmente às 03:00 da manhã, a fábrica começava os testes: as lâmpadas ficavam com uma luz mortiça, os ventiladores quase paravam, e, horror dos horrores, um barulho desgraçado que fazia a gente pensar que morava ao lado de um aeroporto, já imaginou? Pois é, era exatamente isso que ocorria... Os moradores do Parque Colúmbia e do Parque Mercúrio - naquela época ainda existia essa divisão - eram sumária e pontualmente acordados às 03:00 como uma cota de contribuição ao desenvolvimento da aviação nacional (Bem que podiam me dar umas ações da Embraer...)
Mas se até agora essa foi uma história um tanto trágica, agora vem o lado divertido: já que tinham mesmo que acordar essa hora, grupos de moradores de diversas ruas do bairro começaram a ir pra rua durantes os testes e, como não podia deixar de ser, logo começaram a aparecer os cafezinhos, bolinhos, torradas e chazinhos "pro sono voltar logo". Hoje eu percebo o quanto seria muito engraçado ver um bando de senhoras com camisolas, caras de pijama e crianças lanchando toda noite, de 03:00 às 03:40 da matina, fofocando da vida alheia com aquelas frases do tipo "que é que dona fulana e seu sicrano estão fazendo que nem vieram lanchar hoje?", os caras discutindo futebol: "Quem é melhor no Flamengo, Zico ou Doval?, e no Vasco, Roberto ou Zanata?" Lembro bem do meu avô, flamenguista exageradamente doente, defendendo com absoluta convicção o estreante Zico, dizendo "esse garoto é bom, é bom sim!"
Depois, voltavam todos ao sacrossanto recôndito dos seus lares e prosseguiam na sua pacata e novamente silenciosa noite de sono... ou então seguiam o exemplo de dona fulana e seu sicrano, pois, sabem como é, né...
Esse costume columbiano existiu até 1975, quando a fábrica se mudou para São Paulo e pudemos, enfim, dormir uma noite inteira sem interrupções.